Há uns dias, depois de mais uma visita à bela cidade de Aveiro, a denominada “Veneza Portuguesa”, embora possa parecer uma visão megalómana, descobri uma singular festividade, a festividade de São Gonçalinho. Eu que apenas conhecia a festividade de S. Gonçalo de Amarante, a celebrar sempre no primeiro fim-de-semana do mês de Junho, fiquei alegrada. As similitudes são grandes :)
Em Aveiro, junto à ria, nestes dias, as redes lançam-se ao céu e não ao mar, para aparar cavacas doces que pagam as promessas a S. Gonçalinho e são atiradas por devotos do alto da capela. Assim, ao invés das típicas flores com que se homenageiam os santos, como os cravos, ou simplesmente uma esmola em dinheiro, os fiéis ofertam cavacas. Este rito iniciou-se esta sexta-feira, sendo o dia principal celebrado a 10 de Janeiro, com o toque do sino do templo que, deste modo, avisa os habitantes do lançamento das cavacas, do alto da torre.
No adro junta-se povo, de todas as idades, dotado de paus com sacos de rede na ponta ou guarda-chuvas invertidos, para agarrar o máximo de cavacas. Trata-se de um doce duro coberto com uma espécie de açúcar derretido na sua superfície. Semelhante ao utilizado em Amarante, sendo que em Amarante o doce atinge uma forma mais peculiar! Mais à frente poderei escrever sobre isso! O espectáculo é ímpar e mais parece pertencer aos modernos "jogos sem fronteiras" do que a um ritual de devoção secular.
S. Gonçalinho é tido como milagreiro intervindo nos problemas conjugais de vária índole, ou mesmo a melhorar as "performances" de sedução. É tido, igualmente, como casamenteiro dos mais idosos, que lhe pedem a sua intercessão!
É no interior do templo que os crentes consultam o santo para pedir a sua intervenção nas suas preocupações mais privadas e a tradição dá-lhe fama de ser eficaz conselheiro matrimonial. Dizem as gentes que não há caso que meta medo a S. Gonçalinho, desde a frigidez à impotência, da infertilidade aos problemas ósseos, chegando mesmo a prescrever remédio para o envelhecimento. Rezam as crónicas que S. Gonçalinho não fia, nem admite avarezas, pelo que se o crente não cumprir, terá de se haver com a ira do santo.
Além do lançamento de cavacas, singular também é a "dança dos mancos" feita no templo e tolerada pela Igreja, num ritual quase pagão em que homens se fazem de deficientes e cantam brejeirices enquanto bailam à roda de um banco.
Fonte: Jornal O Público
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